Nível Individual e Agrupado




Toda pesquisa envolve o estudo de uma ou mais populações.

Muitas fazem isso abordando os membros do grupo, em busca de relações de nível-individual. É o caso de inquéritos, casos-controles, coortes, ou ensaios clínicos.

Outros métodos não envolvem os indivíduos, a unidade estudada são as próprias populações, cada uma como um inteiro, para encontrar relações de nível-agrupado. Como em estudos ecológicos ou ensaios comunitários.

É uma questão de qual é a unidade sendo analisada. Métodos de nível-individual avaliam características de indivíduos, que são medidas usando questionários ou exames. Mas no nível-agrupado se estuda grupos, não indivíduos, as variáveis são atributos do grupo, que são mais facilmente obtidas com dados secundários.

As características de grupos podem ser divididas em três categorias:
- Medidas Agregadas: Médias e proporções do grupo, derivadas diretamente de variáveis individuais.
- Medidas Ambientais: Características que tem um análogo individual, mas que não é facilmente medido. Um exemplo é poluição no ar de uma cidade, que pode ser um análogo da quantidade de poluição que cada indivíduo respira.
- Medidas Globais: Não tem correspondentes no nível individual, são atributos próprios de grupos ou locais, como a densidade populacional, ou a existência ou não de uma lei.

Efeitos de nível-individual, também chamados de biológicos, podem ser encontrados ao analisar as correlações entre as variáveis individuais. Se um estudo de coorte encontra que os indivíduos expostos a um fator tem maior incidência de uma doença do que os indivíduos não expostos, isso indica uma relação de nível individual, que existe um efeito nos indivíduos.


Efeitos de nível-agrupado, ou ecológicos, são correlações entre variáveis de nível agrupado. Em estudos ecológicos, pode-se comparar a proporção de expostos e a proporção de doentes entre diversas populações, e se existir uma correlação, indica um efeito no grupo.

Um exemplo muito conhecido de efeito no nível-agrupado é a imunidade de grupo, ou de rebanho. A proporção de indivíduos imunes a uma doença transmitida de pessoa para pessoa tem relação com sua transmissibilidade no grupo. Isso quer dizer que ao iniciar uma campanha de vacinação, mesmo os indivíduos que não forem vacinados são beneficiados, pois a proporção de indivíduos imunes no grupo aumenta e a transmissão da doença no grupo diminui. Os benefícios da vacinação vão além dos aspectos biológicos da imunidade, existindo também um efeito ecológico.


Métodos individuais não conseguem detectar esse tipo de efeito, porque costumam estudar apenas uma população, não sendo possível comparar variáveis de nível-agrupado. Se uma característica não varia entre os indivíduos, não adianta comparar indivíduos, pois suas correlações vão passar desapercebidas. É preciso comparar populações, pois espera-se que a variação entre as populações seja maior do que a variação entre os indivíduos. Exatamente o que se faz em métodos agrupados.

Um detalhe muito importante é que, da mesma forma, estudos de nível-agrupado não são adequados para avaliar efeitos individuais. Quando se encontra uma correlação de nível-agrupado, um efeito no grupo, não quer dizer que também exista um efeito no nível-individual. Realizar esse tipo de inferência é errado, por causa da falácia ecológica.


Em estudos ecológicos sabe-se apenas quantas pessoas estão expostas ao fator, e quantas desenvolveram o desfecho. Quando se usa dados secundários a relação entre as características no nível-individual não é conhecida. Se a característica for muito heterogênea, é possível que nenhuma das pessoas que adoeceram sejam alguma das que eram expostas ao fator, ou mesmo que a correlação individual tenha sentido inverso. Para estudar características que variam muito entre os indivíduos, e para estabelecer correlações biológicas, é preciso ter dados de nível-individual.

Quando se usa métodos agrupados o objetivo não deve ser encontrar relações individuais, mas sim ecológicas. É o caso, por exemplo, de quando se deseja planejar ou acompanhar uma estratégia de saúde, seja uma campanha de vacinação, ou uma propaganda. Aqui não interessa saber se quem adoeceu recebeu ou não a vacina, nem se visualizou ou não a propaganda. O efeito procurado não é biológico, é a repercussão no grupo como um todo.

O nível de sua inferência deve ser compatível com o nível analisado na pesquisa. A partir disso você pode pensar que dados de nível-individual servem para estudar efeitos de nível-individual, e que dados de nível-agrupado servem para estudar efeitos de nível-agrupado. Isso é correto, mas não inteiramente.

Mesmo que não seja adequado tirar conclusões, pode dar ideias, permite gerar hipóteses, e ajuda a entender melhor o processo como um todo. Ambos os níveis de variáveis podem ser úteis para entender os processos que ocorrem nos dois níveis.


Obrigado, e até mais!

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